De
Rousseau aos dias atuais, muitas coisas mudaram, muitas revoluções,
principalmente tecnológicas contribuíram para o avanço da humanidade,
entretanto, a essência do “pensamento rousseauniano” ainda está viva, latente
entre nós, em pleno século XXI.
Os
valores atribuídos a homens e mulheres estão expressos nas relações familiares,
nos espaços privados e nos públicos. As diferenças tornam-se ainda maiores
quando agregamos o recorte racial ao recorte de gênero.
Parafraseando
Cora Coralina, nas duas faces da vida a mulher precisa dignificar sua condição,
sendo pedra de segurança de valores que a cada dia vão se desmoronado. Nesse
processo de identificação, a mulher negra luta pela garantia de direitos no
mercado de trabalho, cujos diagnósticos preparados pelo DIEESE/SEADE, IBGE e
IPEA revelam que:
·
O salário médio da trabalhadora negra continua
sendo a metade do salário da trabalhadora branca;
·
A trabalhadora negra continua sendo aquela que
se insere mais cedo e é a última a sair do mercado de trabalho;
·
Mesmo quando sua escolaridade é similar à
escolaridade da companheira branca, a diferença salarial gira em trono de 40% a
mais para a branca;
·
Mulheres negras têm um índice maior de
desemprego em qualquer lugar do país. A taxa de desemprego das jovens negras
chega a 25%. Uma entre quatro jovens está desempregada;
·
Mulheres negras estão em maior número nos empregos
mais precários. 71% das mulheres negras estão nas ocupações precárias e
informais; contra 54% das mulheres brancas e 48% dos homens brancos;
·
Os rendimentos das mulheres negras em comparação
com os homens brancos nas mesmas faixas de escolaridade não ultrapassam os 53%.
A
despeito dessa situação caótica que ainda acomete as trabalhadoras negras,
parece haver um acordo tácito de omissão e silêncio entre o Estado, lideranças
em geral, o patronato e seus representantes. Inúmeros estudos apontam que
políticas universais não diminuem os diferenciais entre negros e brancos, no
máximo, mantêm paralela a situação racial.
Segundo
o DIEESE e a Articulação de Mulheres Negras Brasileiras, os perfis social,
racial e de gênero das quinhentas maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas
revelam que apenas 1% dessas, conta com programas de capacitação profissional
de negros e negras. E mais: apenas 1,8% dos cargos de diretoria das referidas
empresas são ocupados por negros e 9% por mulheres.
Acredito
que para seguir vencendo e quebrando esses paradigmas é necessário intensificar
a luta pela garantia dos direitos fundamentais a todos os cidadãos. É
necessário também o reconhecimento de todos e todas de que vivemos num país
marcado historicamente por desigualdades raciais, responsáveis pela existência
de graves desequilíbrios no que se refere a oportunidades e tratamento da
trabalhadora negra na sociedade brasileira. Enfim, é necessário que todos e
todas saibam que o fator étnicorracial constitui elemento importante na
distribuição de oportunidades de emprego, serviços, educação e outros
benefícios que favorecerão (ou não) o pacto de igualdade entre brancos e não
brancos.